Estranhos no ninho
Cada vez mais urbanas
Com o habitat natural cada vez mais ameaçado, aves se adaptam ao meio urbano de Pelotas
Paulo Rossi -
Entre muitas pressas, tantas outras demoras e estresses típicos da rotina de centros urbanos, quase que despercebidamente alguns personagens nada comuns a este cenário têm se feito cada vez mais presentes em Pelotas.
Seja por adaptação natural ou por força da ação do homem, algumas aves acabam escolhendo fazer morada em locais nada usuais e podem ser vistas na cidade pela área central, próximas a avenidas e terrenos de banhado que resistem em meio ao avanço da urbanização. Espaços os quais se preenchem de vida e se ressignificam junto à população, como áreas para cuidado e preservação da natureza que mostra ser capaz, independentemente de onde, de se adaptar e recriar.
O processo, é claro, está em andamento há anos. Um resposta natural ao avanço urbano e à criação de espaços, como praças e parques, por exemplo, que acabam se tornando atrativas a um grande número de espécies. Porém, uma maior incidência é facilmente observável, afirma o biólogo e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Giovanni Maurício. Segundo ele, é difícil quantificar, já que o tema carece de estudos, mas basta percorrer locais de remanescentes naturais no município para encontrar aves em abundância e familiarizadas com o ritmo urbano. Em algumas áreas mais distantes dos aglomerados urbanos o fenômeno é ainda mais comum, como a praia do Laranjal e o Pontal, por exemplo, que chegam a concentrar cerca de 300 espécies entre aves e peixes.
Na maioria dos casos, explica o biólogo, isto se dá em função da própria espécie identificar que o contexto da cidade é mais seguro para criar ninho e procriar, como fez o gavião carcará. Ele costuma utilizar prédios e torres na zona central para chocar os ovos, áreas menos expostas a predadores naturais do que árvores, por exemplo. Além do carcará, outras 14 espécies de gaviões são encontradas em Pelotas. A grande maioria longe da zona densamente urbanizada, porém com exceções que acharam segurança dentro do perímetro central. A preferência é por banhados, como os que se encontram ao longo da avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira. Ali, convivem com diversas outras aves que veem nesses espaços um ambiente de grande riqueza para alimentação.
Outra área que concentra diferentes espécies fica nas proximidades do Clube Gonzaga, onde alguns gaviões, como o do banhado, garças e jaçanãs podem ser vistos com maior frequência durante os dias da semana. Já nos parques e praças, as caturritas mostram-se como "donas" das árvores.
Com este convívio tornando-se mais intenso, o professor alerta para questões como a poluição de áreas verdes e dos pontos onde estas aves acabam escolhendo para caçarem. No canal do Pepino, no entroncamento das avenidas Juscelino Kubitschek de Oliveira e Bento Gonçalves, são despejadas quantidades significativas de matéria orgânica, além de esgoto. Poluentes que acabam sendo ingeridos e podem causar danos aos animais. "São demandas antigas, mas que valem estar presentes novamente na pauta. Afinal, além da qualidade de vida dos cidadãos, passaram a impactar na qualidade de vida destes seres também."
Motivos para preservar
O Estado homologou em 2014 a lista de espécies da fauna gaúcha ameaçadas de extinção. Foi a primeira atualização feita desde 2002 e indicou que o Rio Grande do Sul possuía 280 espécies de sua fauna em algum grau de ameaça, além de dez já extintas. Estavam sob risco 14% das aves nativas.
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